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Posso presumir que você, cara leitora ou caro leitor, provavelmente nunca dormiu no relento, ou em algum lugar descampado sem nenhum tipo de proteção.
Você acordou e provavelmente ainda está do lado de dentro de sua casa, ou então de um outro edifício, seja ele seu escritório, uma padaria, um hotel. Você poderia estar ainda em um veículo em movimento (espero que não dirigindo!) ainda assim do lado de dentro.
Pode ser que aqui nesta pequena comunidade de leitores tenham pessoas com o espírito mais aventureiro, que saíram para ler sentadas em um banco de praça, embaixo de uma árvore ou então em seu quintal. Pois bem essas pessoas poderiam me dizer “ahá! Peguei você, estou do lado de fora”. Mas tem uma outra pegadinha aí - de qualquer forma, chamando do lado de dentro ou do lado de fora, você estará em um ambiente construído.
Calma, não adianta fugir. Se há um ser humano, temos um ambiente construído. Você pode correr para o meio de uma mata inexplorada, o que já é praticamente inexistente, mas vamos pressupor que você encontre. A partir do momento em que põe os pés lá, terá que abrir caminho para passar. Depois de um tempo procurará uma sombra agradável, tentará encontrar um lugar onde pode se sentar e descansar. E cedo ou tarde tratará de encontrar algum lugar para ser seu banheiro e ainda um outro para comer tranquilo. E algum ponto de vista para tirar algumas fotos legais. Pronto, agora não é mais uma mata inexplorada, é um ambiente. Muito rústico, muito prosaico, mas você construiu um ambiente. Você começa a se familiarizar e poderá até encontrar um canto para dormir.
Claro, isso não é exclusividade nossa. Muitos animais procuram e constroem tocas e possuem um certo domínio do que acreditam ser seus territórios. A nossa diferença é a escala da coisa. O mundo já não é nada mais do que nosso quintal, é nossa paisagem. Chegamos em um ponto em que transformamos o espaço em nossa casa, podemos dormir em órbita, na lua e em breve em marte. Tudo o que vemos tomamos como nosso por direito. Como um Midas do concreto, tudo o que tocamos se torna construção humana. Precisamos garantir nossa segurança, pavimentar para facilitar o acesso, cobrir para nos proteger.
Poderia ser diferente? É até difícil imaginar, se fosse diferente provavelmente nem seríamos uma civilização. Não precisamos nos sentir mal por isso mas é importante termos sempre esta visão em mente para pensarmos nossas construções e nossas atividades com responsabilidade, seja sobre os espaços que ocupamos, seja pelos recursos que utilizamos.
O que nos diferencia dos outros animais construtores, é a cultura. Um joão-de-barro nasce sabendo construir sua toca. Ele não precisa aprender mas também não pode inventar uma maneira nova de construir. Enquanto nós dependemos da cultura para sermos quem somos. Um hipotético Tarzan criado desde bebê por gorilas altruístas provavelmente conseguirá usar alguns galhos como ferramentas, mas agirá como um gorila e será incapaz de fazer um pote de barro, até que alguém o ensine.
Nós, já homo sapiens sapiens formados e evoluídos levamos milhares de anos para conseguirmos fazer nossos primeiros potes. Mas a partir do momento em que o fizemos, fomos capazes de ensinar para as outras gerações e não paramos mais.
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